Economia
Interferência na Petrobras é ruim para empresa e para a economia do país, dizem analistas
Avaliação é de que a empresa não deve cometer novamente o erro de investir em projetos que não gerem retorno
CNN BRASIL / PEDRO ZANATTA DA CNN
Especialistas ouvidos pela CNN avaliam que um ambiente com menos interferência governamental é benéfico para a gestão e a saúde financeira da Petrobras. O entendimento é de que a empresa não deve cometer novamente o erro de investir em projetos que não gerem retorno e de que sejam respeitados todos os demais acionistas da estatal.
Desde que foi eleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem criticando a política de preços da estatal e o pagamento de dividendos aos acionistas. Além do presidente, quadros importantes do Partido dos Trabalhadores (PT) também já demonstraram insatisfação com a estatal. No início deste mês, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, publicou, em suas redes sociais, críticas ao modelo de dividendos da Petrobras e defendeu que uma revisão seja feita.
Em sua primeira entrevista coletiva à imprensa, o novo presidente da companhia, Jean Paul Prates, afirmou que o Preço de Paridade Internacional (PPI) deixa de ser o único parâmetro para a estatal na definição de preços.
As sinalizações acenderam no mercado temores de que a empresa possa sofrer um novo período de maior interferência em sua gestão.
“Cada governo tem uma ideia do que fazer com a empresa, mas às vezes não se entende que existem acionistas privados e você precisa respeitar esse dinheiro e não pegá-lo e investir onde não há retorno. Se o governo quiser usar a empresa para fazer programa social, reduzir a inflação, o correto seria fechar o capital da Petrobras e faz o que quiser com ela. Agora, enquanto empresa de capital misto, isso não deveria ser feito. O presidente tem que cuidar da Petrobras e o governo cuidar do país”, diz Adriano Pires, comentarista de Energia da CNN.
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Pires lembra que, no período em que a empresa conviveu com interferências políticas e direcionamentos de investimentos para projetos que não trouxeram retorno, sua dívida alcançou US$ 150 bilhões, a maior dívida de uma corporação do mundo.
“Hoje ela tem uma dívida de US$ 60 bilhões. Agora ela voltou a dar dividendos para o acionista, voltou a pagar impostos. E o governo [de Michel] Temer promoveu um certo saneamento na Petrobras. Realizou venda de ativos que não davam retorno, e trouxe um foco maior em exploração de petróleo. Nos dois últimos governos você recuperou a Petrobras”, disse.
Para João Lorenzi, analista da Encore Asset, a avaliação é de que “basta a Petrobras não arcar com custos que não são de responsabilidade dela”.
“O erro é artificialmente arcar com custos que não são da Petrobras, custos que são do país, subsídios a combustíveis, por exemplo. O problema é o governo usar a Petrobras para isso”, comenta Lorenzi.
Prates tem reforçado que a empresa terá um compromisso com a transição energética e investimentos em energias renováveis.
Para os economistas, é interessante que a estatal tenha esse planejamento, uma vez que outros países e empresas petroleiras caminham neste sentido. Entretanto, a avaliação é de que deva existir uma prudência para evitar uma guinada que faça a empresa deixar de lado o seu “core business”, ou seja, sua atividade básica, que é o setor de óleo e gás.
“Quando se diz em investimento em eólica, não tem problema. Desde que o investimento dê retorno para a empresa diversificar o portfólio. Não esquecendo que o negócio principal é óleo e gás. A preocupação que temos é de o governo que entra achar que a empresa é dele”, avalia Pires.
Nesta terça-feira (21), em entrevista ao portal Brasil 247 Lula disse que pediu ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que suspendesse todas as vendas de ativos da estatal. O presidente voltou a criticar a empresa e os salários pagos à alta cúpula da companhia.
Lucro recorde
No início do mês, a Petrobras divulgou que seu lucro líquido registrado em 2022 foi de R$ 188,33 bilhões, recorde histórico da estatal. O resultado é 77% maior que do ano anterior.
Se considerado o quarto trimestre, o lucro líquido registrado é de R$ 43,34 bilhões, alta de 37,6% em relação ao terceiro trimestre.
O montante veio acima do resultado esperado por uma pesquisa da Refinitiv, que era de R$ 37,61 bilhões. O Ebitda – lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação – ajustado no período foi de R$ 73,09 bilhões.
Na ocasião, a estatal divulgou seu balanço do quarto trimestre (4T22) e consequentemente os resultados do ano de 2022.