Cotidiano
Condenadas por falar o óbvio: cientistas vive batalha judicial por rebater a falsa associação entre diabete e verme
O ministro Dias Toffoli do STF, suspendeu decisão da Justiça de São Paulo que condenou duas cientistas a pagarem indenização por danos morais
MIDIAMAX/HELDER CARVALHO
Um vídeo que desmentia a relação entre a diabetes e vermes foi o que rendeu às cientistas Laura Marise e Ana Bonassa, do canal Nunca Vi Um Cientista, um processo judicial movido por um nutricionista e influenciador que pretendia vender um “protocolo de desparasitação'.
Segundo informações do G1, na segunda (30), o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu decisão da Justiça de São Paulo que condenou as duas cientistas a pagarem indenização por danos morais.
“A suspensão da sentença é muito importante para mostrar que a ciência está vencendo a primeira batalha', afirma Laura Marise, farmacêutica-bioquímica e pós-doutora em bioquímica. Apesar da disputa judicial envolvendo a dupla, a explicação das cientistas sobre o tema está correta.
A diabetes é caracterizada pela produção insuficiente ou má absorção da insulina, hormônio que regula a glicose no sangue. O órgão que tem relação direta com a doença é o pâncreas, que produz a insulina – e não é atacado por vermes. Portanto, parasitas e diabetes não têm nenhuma relação.
“A ideia é bem absurda. Até quem é leigo no assunto sabe que verme não está correlacionado a diabetes', avalia Ana Bonassa, bióloga e doutora em ciências. O canal das cientistas na internet é dedicado a desmistificar temas ligados à ciência e também combater desinformação científica.
Entre os vídeos que esclarecem informações incorretas que já circularam nas redes estão, por exemplo, conteúdos sobre a qualidade dos medicamentos genéricos e sobre as vacinas contra a Covid-19.
“A pessoa que vai produzir uma desinformação gasta muito pouco tempo, mas para desmentir é muito mais difícil. Combater desinformação é um trabalho sem fim', comenta Ana.
Desinformação na ciência
Apesar da vitória parcial com a suspensão da decisão, o processo continua, assim como o trabalho diário da dupla para combater informações falsas.
“Tem dias que parece que a gente está enxugando gelo. A gente desmente algo e, logo na sequência, parece que surge milhares que novos conteúdos falsos sobre o assunto', lamenta Laura.
Além da falsa associação entre a diabetes e os vermes, o vídeo desmentido pelas cientistas tinha como objetivo a venda de um produto denominado “protocolo de desparasitação' para o tratamento.
Laura lembra que não há um protocolo padrão de desparasitação. “Se você procurar na internet, você acha várias técnicas, vários produtos, mas sem nenhuma base científica', explica.
Nenhuma dessas receitas pode ser usada contra parasitas e nem, claro, para combater a diabetes.
As cientistas ainda afirmam que o combate à desinformação se torna muito desafiador porque, muitas vezes, são conteúdos que trazem soluções imediatas para as pessoas.
“A informação de verdade nem sempre vai trazer uma solução fácil. A gente tentar educar nosso público para desconfiar das coisas', diz Laura.
Diabetes e vermes
Considerada uma patologia crônica, isto é, que não tem cura, a diabetes resulta na elevação do nível de açúcar no corpo. Estima-se que cerca de 17 milhões de pessoas vivam com diabetes no Brasil.
Há dois tipos mais comuns da doença:
Tipo 1
É uma doença autoimune na qual o sistema imunológico ataca e mata as células do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina.
Esse tipo de diabetes aparece geralmente na infância ou na adolescência, mas o diagnóstico também pode ser feito já na fase adulta.
Segundo o Ministério da Saúde, entre os principais sintomas desse tipo da doença estão sede, emagrecimento, cansaço e fraqueza.
Tipo 2
Acontece quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia. Ele acontece com mais frequência os adultos e está diretamente relacionado à sobrepeso, sedentarismo e dieta inadequada.
Os sintomas são aumento de apetite, muito xixi, formiga no vaso sanitário, fraqueza e dor nas pernas.
Esse tipo de diabetes pode ser prevenido ou retardado com comportamentos saudáveis como prática regular de exercícios físicos e dieta balanceada.
Em ambos os casos, os pacientes precisam fazer aplicações diárias de injeções de insulina para controlar a quantidade de glicose no sangue.
Já os vermes são como popularmente são conhecidos os parasitas. As infecções parasitárias causadas por esses organismos são, geralmente, de transmissão oral-fecal e afetam o sistema digestivo.
Esse tipo de infecção causa, de forma geral, dor abdominal, diarreia, náuseas e vômitos. O tratamento é feito com medicamentos antiparasitários.
Próximos passos do processo
Ainda que a suspensão realizada pelo STF tenha sido favorável às cientistas, a decisão é apenas liminar. A partir disso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) será intimada a se manifestar. Também deve acontecer um julgamento de mérito, do qual cabe recurso.
Caso a sentença permaneça cassada, deve haver um novo julgamento em primeira instância.
“Várias pessoas já estiveram ou vão estar em nosso lugar e é importante lutar para que a sentença não seja concretizada', defende Laura.
Conforme o G1, enquanto dão sequência ao processo, a dupla seguirá. Produzindo conteúdo sobre ciência e combatendo desinformação.
“Essa vitória é muito importante porque ela garante que a gente possa seguir fazendo nosso trabalho', afirma Ana.
*Informações do G1
✅ Siga o Jornal Midiamax nas redes sociais
Você também pode acompanhar as últimas notícias e atualizações do Jornal Midiamax direto das redes sociais. Siga nossos perfis nas redes que você mais usa. 👇 É fácil! 😉 Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar: Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads. 💬 Fique atualizado com o melhor do jornalismo local e participe das nossas coberturas!