• Segunda, 20 de Janeiro de 2025

A vida se renova no Pantanal, mas não se espera uma grande cheia

Com mudanças no comportamento das águas 'neste ano, as bacias hidrográficas do Sul do Pantanal estão recebendo mais chuvas do que as do Norte, o contrário do que normalmente ocorre', observa o pesquisador Agostinho Catella, da Embrapa Pantanal

CORREIO DO ESTADO / SíLVIO DE ANDRADE


ARQUIVO/CORREIO DO ESTADO

Depois de quatro anos (2019 a 2022) de seca no Pantanal, com período crítico de queimadas, impactos incalculáveis na fauna e flora e consequências também na qualidade da água dos rios, a intensidade das chuvas neste primeiro semestre do ano na bacia do Rio Paraguai mudou o cenário do bioma, não apenas na vegetação, recuperando-se das cinzas.

A vida se renova na terra e na água e o Pantanal entra em processo (ainda lento) de recuperação.

Com mudanças no comportamento das águas – “neste ano, as bacias hidrográficas do Sul do Pantanal estão recebendo mais chuvas do que as do Norte, o contrário do que normalmente ocorre”, observa o pesquisador Agostinho Catella, da Embrapa Pantanal -, o Rio Paraguai atingiu 5,94 metros em Porto Murtinho, no extremo sudoeste, na primeira semana de março.

Neste mês, entre 2020 e 2022, a média na mesma régua foi inferior a 3,30 metros. 

Os pantaneiros da planície comemoram a chegada das águas, postando nas redes sociais imagens de suas camionetes cruzando grandes alagados, enquanto o principal rio da bacia continua em elevação nas cabeceiras.

Em Cáceres (MT), superou 4,70 metros, nível inferior apenas a 2018 (4,96m). Essa água chegará em junho a Ladário, cidade vizinha a Corumbá, onde o Paraguai ainda está baixo (2,36m) para a média histórica (em 2018, atingiu 4,10m no período).

Mais água, mais peixe

O ressurgimento das baías e corixos e campos inundados beneficia toda a cadeia alimentar do ecossistema, do homem aos microrganismos.

A fauna, em especial as aves, ressurgiu, para deleite dos turistas e alivio dos ambientalistas, os quais fizeram estimativas subestimadas do desastre causado pelo fogo.

A pesca, em especial, terá um ano de boa produção, embora não comparada às grandes cheias (quando o nível do Rio Paraguai supera os 5m em Ladário).

“As condições ambientais (do Pantanal) em 2023 devem concorrer positivamente para a produção natural de peixes e para a pesca”, segundo Catella, especialista em ictiofauna pantaneira.

O fim da piracema (fevereiro) coincidiu com a subida das águas e favorece a manutenção do estoque pesqueiro. Os peixes grandes e os jovens recém nascidos e os ovos rodam rio abaixo e adentram os campos inundados, onde encontram alimento e abrigo.

“Na vazante, com o refluxo das águas, os adultos retornam para os rios e reiniciam um novo ciclo. Muitos peixes de espécies pequenas, que não fazem piracema, permanecem nos alagados durante a estiagem. A grande quantidade de peixes retidas nesses ambientes alimenta as aves que se reproduzem durante a vazante no Pantanal”, explica Catella. “Além de sua função ecológica, os peixes são de grande importância social e econômica para a pesca.”

Embora os anos de pandemia do coronavírus e de seca tenham sido críticos para o setor turístico pesqueiro, a diminuição da atividade, tanto amadora como profissional, foi positiva para a ictiofauna, que já se encontrava sob o estresse de anos de pouca chuva na região, avalia o pesquisador da Embrapa.

Com a abundância de água, segundo ele, “os peixes conseguem manter grandes populações, o que garante a piscosidade dos rios do Pantanal”.



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