• Sexta, 14 de Fevereiro de 2025

PCC, Sergio Moro e o fim da ideologização da PF

Não se pode olvidar que a Polícia Federal estava monitorando o PCC e seu núcleo de inteligência há meses, e o senador estava ciente dos fatos e com segurança reforçada

CORREIO DO ESTADO / MARCELO AITH


A Polícia Federal desarticulou um grave ataque contra duas importantes instituições brasileiras ao prender integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) que planejavam executar um atentado contra o senador Sergio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya.

A atuação da PF, comandada pelo diretor-geral Andrei Rodrigues, foi extremamente exitosa e impediu que fossem postas em risco as vidas dessas pessoas públicas e de seus familiares.

Segundo informações da PF, a facção criminosa pretendia assassinar o senador Moro e seus familiares; na impossibilidade, sequestrariam sua filha.

Não há dúvida de que essa ousadia do PCC deve ser tratada com grande atenção pelos Poderes da República, para que a “moda”, a la Colômbia, não se normalize no cotidiano da vida dos brasileiros.

No entanto, esse gravíssimo fato, repita-se, brilhantemente desbaratado pela PF, não pode servir de palco político para a oposição fazer ilações descabidas e acentuar, ainda mais, os ânimos.

O senador Flávio Bolsonaro, em um discurso no mínimo irresponsável, correlacionou o plano do PCC a uma fala infeliz e também irresponsável do presidente Lula, que, em entrevista ao Brasil 247, no dia 21 de março, disse que “só ia ficar bem quando fodesse com o Moro”, em resposta quando perguntado sobre como estava pelos procuradores e delegados que o visitavam formalmente na época de sua prisão.

Segundo Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), “os sinais que vêm do atual governo não são bons desde a campanha”, relacionando o atual governo federal com o crime organizado ao relembrar que Lula usou, durante a campanha presidencial, um boné com a sigla CPX. Flávio vinculou o uso das letras a outra organização criminosa do Complexo do Alemão.

Não menos destemperada e também irresponsável foi a fala do deputado federal Deltan Dallagnol, que, ao subir na tribuna da Câmara dos Deputados para depositar seu apoio ao senador Moro, claramente quis associar o plano ao atual governo.

“Os criminosos querem vingança. Querem ‘ferrar’ Sergio Moro, cada um com suas armas”, escreveu o parlamentar no Twitter .

Não se pode olvidar que a Polícia Federal estava monitorando o PCC e seu núcleo de inteligência há meses, e o senador estava ciente dos fatos e com segurança reforçada.

Ou seja, a PF demonstrou que atua contra o crime e combate os criminosos sem uma bandeira ideológica, diversamente do que ocorreu nos últimos quatro anos em relação à cúpula dessa respeitável instituição de Estado. A PF ministrou que é um órgão de segurança do Estado, e não do governo de plantão.

Por outro lado, causou estranheza a ausência de uma manifestação veemente dos integrantes do governo em solidariedade ao senador da República.

Em situações como essa, não apenas o senador, o alvo, mas o Estado Brasileiro e, assim, todos os políticos, de mãos dadas, devem estar na luta contra o crime organizado. Tem de se colocar as questões ideológicas de lado para que situações como essas não se repitam e, pior, não se normalizem no Brasil.

Sergio Moro, personalidade contra a qual tenho severas restrições por sua dubiedade, apresentou um projeto de lei que merece ser analisado com bastante cautela e sem proselitismos baratos. O projeto, basicamente, imputa fato criminoso a atos preparatórios de um atentado contra uma autoridade pública.

Como se sabe, o Direito Penal não pune os atos preparatórios, porém, o projeto há de ser estudado antes de ser acolhido ou rejeitado, ouvindo especialistas, para que não seja mais uma norma criada em momento de crise e eivada de inconstitucionalidade.

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